Jornalista não planeja o futuro
A
pesquisa foi construída a partir de 2010 com quatro tip os de amostras. Os
componentes do Grupo A foram captados por redes sociais, principalmente via
email. Uma segunda amostra abordou os profissionais do Sindicato dos
Jornalistas do Estado de São Paulo (Grupo B). Jornalistas contratados de uma
grande empresa editorial de São Paulo compuseram o Grupo C. A quarta amostra
utilizou como critério jornalistas freelancers (Grupo D). Do cruzamento desses
dados, o grupo percebeu, sob o ponto de vista quantitativo, que os jornalistas
sócios do sindicato são majoritariamente homens e de gerações mais velhas, com
mais de 35 anos. Nos outros grupos de amostragem, destacaram-se mulheres jovens
não sindicalizadas. Houve, portanto, uma mudança do perfil dos jornalista por
gênero e também a constatação de que os jovens se sindicalizam menos.
Roseli
conta que, durante a análise qualitativa, surgiram questões dos jornalistas relacionadas
ao engajamento e descrédito na organização enquanto categoria. "Acredito
que isso se dê pela atual situação de empregabilidade e pela precarização
desses laços, que tornam a questão da sindicalização e da organização muito
frágeis", afirma. Uma das
perguntas do questionário queria saber se o profissional encontrava tempo para
planejar sua vida - se tem conseguido planejar para curto, médio ou longo
prazo, ou não tem conseguido planejar. Os resultados apontaram que os mais
jovens e os profissionais freelancers são os que menos têm conseguido planejar.
"Isso quer dizer trabalhar hoje, para consumir hoje e não saber como será
seu trabalho no ano que vem", explica a professora. Ela aponta que essas
pessoas, com instabilidade e dificuldade em se relacionar com o mundo do
trabalho, não vislumbram soluções coletivas - como sindicalizar-s e ou
organizar-se para pleitear melhores condições de trabalho -, mas sempre saídas
individuais como, por exemplo, arranjar mais um emprego. "A solução de
classe jornalística parece que se esvai",acrescenta Rafael Grohmann.
O
doutorando considera que os jornalistas mais jovens têm uma perspectiva
"ajustada às prescrições do sistema econômico capitalista" no
sentido, por exemplo, da valorização do empreendedorismo. Ele avalia que
pouquíssimos entrevistados iam contra o pensamento hegemônico. Roseli relata
falas daquele profissional que não se encontra nas grandes mídias e que procura
trabalho em mídias alternativas para se realizar enquanto jornalista. "Ele
não se via respondendo aos paradigmas da profissão, como a aspiração do
jornalista como mediador social, seu comprometimento com as causas da verdade,
da democracia, da cidadania nas grandes mídias", aponta Roseli. Ela
ressalta que esse tipo de profissional só consegu ia suprir seus anseios quando
ele mesmo se patrocinava, trabalhava de graça ou batalhava para publicar
material próprio e independente em sites e revistas alternativas. Quando esse
profissional conseguia colocar pautas alternativas na grande imprensa, Grohmann
relembra que o termo utilizado era "contrabandear informação".
Grohmann
questiona também até que ponto os jornalistas estão discutindo política na sua
formação. Ele relembra dois relatos. Um, de uma menina que dizia fugir da aula
de política na faculdade. Outro, de uma pessoa que afirmava não saber a
diferença entre PMDB e PSDB e que também não demonstrava interesse em aprender,
pois não se interessava pelo assunto e preferia que Paulo Maluf escrevesse uma
matéria sobre política do que ela.
Um
entrevistado afirmou não saber a diferença entre PMDB e PSDB e que não queria
aprender, pois não se interessava pelo assunto e preferia que Paulo Maluf escre
vesse uma matéria sobre política do que ele.
No
livro, enquanto Cláudia Nonato focaliza o segmento dos jornalistas
sindicalizados em São Paulo, Grohmann trabalha o jornalista como receptor,
buscando compreender quais os produtos culturais preferidos pela categoria.
Ele
percebeu que, embora o jornalista acesse mídias alternativas, o que ele mais
segue ainda é a mídia tradicional e grandes veículos de comunicação. E a busca,
geralmente, está mais ligada ao seu trabalho do que à obtenção de informação em
si. "Ele assiste à televisão para criticar o trabalho dos outros ou então
para melhorar seu próprio desempenho. O jornalista nunca desliga, mesmo quando
está no sofá de casa", aponta Grohmann. O pesquisador retoma a questão do
ajustamento às prescrições do sistema econômico capitalista, afirmando que o
jornalista chega, em sua crítica, no máximo a "que off ruim, essa manchete
não está boa, essa passagem não ficou legal", e não consegue atingir
críticas ideológicas mais profundas.
O
doutorando critica também a existência esporádica, dentro das faculdades de
jornalismo, do debate do jornalista enquanto profissional, justamente em um
momento em que a categoria presencia uma séria de demissões. "O jornalista
poucas vezes se pensa enquanto trabalhador, ele é o super-herói, o salvador da
pátria", explica. "Mais do que os dados quantitativos, acho que o
maior crédito do nosso livro é provocar essa discussão. A classe dos
jornalistas está trabalhando muito e não está olhando direito para essas
questões tão fundamentais", afirma Grohmann.
Fonte:
www.ojornalista.com.br
Comentários
Postar um comentário